Redação do Enem é ‘fiel da balança’, diz
professor
Luiz Fernando, Toledo Paulo Saldaña
Estudo mostra a correlação entre quem vai bem na
prova objetiva e no texto
As próximas
duas semanas serão a reta final para 8,7 milhões de candidatos que se
inscreveram no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Os participantes terão de
responder a 180 questões, mas, segundo especialistas, é a redação que tem papel
preponderante na definição de quem vai bem e pode ficar com uma vaga na
universidade. Professores indicam que ainda dá tempo para treinar a composição
dos textos.
As provas
ocorrem no fim de semana dos dias 8 e 9 deste mês. Aplicada no segundo dia, a
redação é como “o fiel da balança”, na avaliação do professor da Universidade
Federal do Ceará (UFC) Miguel Franklin. “É a parte mais importante da prova,
ela realmente demonstra se a pessoa sabe escrever, ler, articular as ideias.”
Franklin
realizou um estudo sobre o Sistema de Seleção Unificada (Sisu) nas
universidades federais, que têm o Enem como critério. “Mas a cada ano aumenta a
correlação entre quem vai bem na prova objetiva e na redação”, afirma.
A redação é
a única parte da prova em que é possível chegar a mil. Na correção da parte
objetiva, o exame tem um modelo matemático, a Teoria da Resposta ao Item (TRI),
que limita a nota máxima de acordo com o desempenho geral dos participantes –
que nunca será mil. Com a TRI, os itens são pré-classificados por dificuldade.
Assim, as notas não levam em consideração apenas a quantidade de acertos, mas
também quais questões foram acertadas.
A diferença
de pontuação na parte objetiva entre os aprovados em cursos mais concorridos
costuma ser pequena. Portanto, garantir pontuação alta na redação pode ser
decisivo. Todas as universidades federais usam, total ou parcialmente, o Enem
como processo seletivo. Este ano, o Sisu ofereceu 51 mil vagas para quem
tivesse feito Enem.
A prova
exige que os candidatos façam uma dissertação sobre um tema conhecido na hora,
como ocorre em outros vestibulares. A diferença no Enem é a necessidade de o
participante escrever uma proposta de solução ao problema abordado no tema. O
respeito aos direitos humanos também deve ser contemplado. (Aqui é considerado a competência 5, onde os aluno tem o mais baixo desempenho dentro da redação - muita atenção aqui).
Essas
características demandam preparação específica. Para a professora do Curso e
Colégio Objetivo Maria Aparecida Custódio, a redação do Enem é uma prova de
cidadania. “Não basta apenas atribuir a solução ao governo, mas deve haver uma
intervenção”, explicou. “O aluno pode pensar, por exemplo, no papel do
indivíduo, das ONGs, da imprensa.”
A estudante
Mariana Valério da Silva, de 17 anos, tem dedicado cinco horas por semana para
treinar o texto. “Assim que acaba a aula, eu faço a redação. Começo por tópicos
e depois faço os argumentos”, explica. “Faço até seis textos na semana”, diz
ela, que pretende uma vaga em Engenharia. Além do Enem, Mariana também vai
tentar uma vaga na USP.
A sugestão
da professora Andrea Lanzara, do Cursinho da Poli, é ficar atento ao enunciado
do tema. “A prova não é só de escrita, mas de leitura. Se o aluno compreende
criticamente a proposta, chega onde a banca de correção quer que ele chegue.” Andrea
indica que o estudante faça ao menos uma redação por semana, contemplando
assuntos que já foram temas de provas anteriores, como a lei seca, tema do ano
passado. Temas como água, a questão racial e lixo são algumas das apostas dos
professores para o tema deste ano. “Hoje todo mundo tem celular. O que fazer com
o celular velho? É possível admitir uma intervenção nesse sentido. Ideias que
reduzam este lixo, que é extremamente prejudicial”, diz a professora Simone
Mota, do Etapa.
A redação
esteve envolvida em várias polêmicas do Enem. Desde 2012, o MEC passou a permitir
que o estudante tenha acesso ao texto corrigido. Queixas de estudantes chegaram
à Justiça, mas o governo ganhou todos os processos até agora.
Casos de
redações nota máxima com erros e composições com deboches – um deles trazia uma
receita e outro, o hino de um time – levantaram questionamentos sobre os
critérios de correção nos anos anteriores. Desde o ano passado, provas com
deboche são zeradas.
Fonte :
Estadão